A recente notificação de dois casos de botulismo levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a exigir que fabricantes de toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, atualizem as bulas de seus produtos. A medida visa alertar sobre o risco da toxina se espalhar para outras regiões do corpo, potencialmente causando sintomas graves horas ou semanas após a aplicação.
A dermatologista Juliana Piquet explica que o botulismo é uma doença rara, mas grave, caracterizada por fraqueza muscular, visão dupla, queda da pálpebra superior, dificuldade para engolir e falar, boca seca e, em casos severos, paralisia respiratória. “O tratamento rápido é essencial, especialmente com suporte ventilatório. As causas podem incluir ingestão de alimentos contaminados, infecção de feridas e uso inadequado da toxina botulínica, muitas vezes em doses excessivas ou por meio de produtos falsificados”, destaca.
O dermatologista Victor Bechara acrescenta que os esporos da bactéria C. botulinum podem ser encontrados em solos, águas e alimentos contaminados. “O botulismo alimentar é o mais comum e ocorre após a ingestão de conservas vegetais, carnes curadas e pescados defumados. Outras formas incluem a contaminação de ferimentos e o consumo de mel por bebês”, explica.
Em relação à toxina botulínica, Bechara alerta para o aumento de casos associados ao uso terapêutico ou estético do produto. “Apesar de segura quando aplicada corretamente, questões como procedência, armazenamento e técnica de administração são cruciais. Produtos falsificados e erros técnicos podem elevar os riscos”, afirma.
Juliana Piquet reforça a segurança do botox quando utilizado dentro das normas. “A toxina é usada há mais de 35 anos com um excelente perfil de segurança. Para atingir uma dose potencialmente fatal, seria necessário injetar de 25 a 30 frascos inteiros de um produto autêntico”, pontua.
Para minimizar riscos, Bechara recomenda evitar alimentos de conserva duvidosa, cozinhar alimentos por pelo menos 10 minutos acima de 80ºC, impedir o consumo de mel por bebês e manter cuidados com ferimentos. “No caso da toxina botulínica, sempre procure um profissional especializado e verifique a procedência do produto”, orienta.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) reforça que o uso do botox para fins estéticos é comprovadamente seguro, desde que sejam utilizados produtos licenciados e aplicados por profissionais capacitados. “O perigo real está nos produtos falsificados e na má administração. A conscientização sobre a origem e segurança dos produtos injetáveis é essencial”, conclui Juliana.