Papa Francisco – Foto: Getty Images
A eleição de um novo papa é um dos momentos mais solenes e acompanhados do mundo. Mas, além da famosa fumaça branca e do anúncio “Habemus Papam”, há uma série de rituais, decisões e simbolismos que moldam os primeiros dias do pontífice no Vaticano — alguns profundamente emocionais, outros discretos, mas todos repletos de significado. Nesta matéria, reunimos alguns dos bastidores e curiosidades desse período decisivo, que vai desde a escolha do nome até a definição de gestos que marcam o tom de um novo tempo para a igreja católica.
Escolha e o novo nome
Assim que é eleito pelo Conclave, o cardeal escolhido ouve a solene pergunta: “Aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?”. Ao dar seu “sim”, ele assume a responsabilidade de liderar a Igreja e escolhe o nome pelo qual será reconhecido. Essa escolha, carregada de significado, é uma primeira pista sobre os valores, inspirações e caminhos que ele pretende seguir. O primeiro a adotar um novo nome foi João I, no século VI, pois seu nome de batismo era Mercúrio — considerado pagão.
Sala das Lágrimas
Logo após a aceitação, o novo papa é levado à reservada Sala das Lágrimas, anexa à Capela Sistina. O nome do local faz jus ao momento: ali, longe dos olhos do mundo, ele se recolhe diante da imensidão do chamado que acaba de aceitar. É nesse ambiente que ele veste, pela primeira vez, a batina branca — escolhida entre três opções de tamanhos — e recebe os primeiros símbolos do seu pontificado: o pálio e o Anel do Pescador.
Habemus Papam
Com tudo pronto, o Cardeal Protodiácono surge na sacada central da Basílica de São Pedro e faz o anúncio que milhões aguardam: “Habemus Papam!”. Ele revela o nome de batismo do eleito e o novo nome escolhido para o pontificado. Atualmente, quem deverá cumprir essa tradição é Dominique Mamberti, decano da ordem dos diáconos, com longa experiência em assuntos internacionais. O ritual existe desde 1417, encerrando simbolicamente o período de sede vacante.
A primeira bênção
Ainda na sacada, diante de uma multidão em festa e da audiência global, o novo papa concede a bênção Urbi et Orbi — à cidade de Roma e ao mundo. Essa bênção, oferecida em momentos únicos, concede indulgência plenária, que significa para a igreja o perdão total da pena temporal aos que a recebem em espírito de fé e reconciliação.
A primeira missa
Na manhã seguinte, o papa celebra sua primeira missa como pontífice. A Missa Pro Ecclesia, realizada na Capela Sistina, é um rito íntimo e carregado de simbolismo, marcando sua dedicação oficial à missão espiritual confiada pelos cardeais e por toda a Igreja.
Celebração de início de pontificado
Alguns dias depois, em uma cerimônia grandiosa na Praça São Pedro, ocorre a Missa de Início do Pontificado. Diante de líderes políticos, religiosos e fiéis de diversos países, o papa recebe novamente o pálio e o Anel do Pescador — desta vez à vista do mundo. Desde João Paulo I, o evento não inclui mais coroação nem uso da tiara, sinalizando uma mudança de estilo e linguagem.
Registro oficial da eleição
A confirmação da escolha não se limita ao anúncio público. O processo é registrado nos Arquivos Secretos do Vaticano e publicado na Acta Apostolicae Sedis, documento que assegura a validade canônica da eleição e o início formal do novo pontificado.
Primeiros gestos
Nos primeiros dias, pequenos gestos ganham força simbólica. O papa geralmente visita a Santa Maria Maggiore, uma das maiores basílicas de peregrinação e a maior igreja mariana de Roma, e também pode visitar o túmulo de São Pedro e de outros pontífices.
Diálogos com o mundo
Ainda no início, o papa envia saudações a líderes internacionais e comunidades religiosas, reforçando seu compromisso com o diálogo, a tolerância e a paz global. Essas comunicações são organizadas pela Secretaria de Estado, que também estrutura os primeiros discursos diplomáticos do pontificado.
Encontro com a Cúria Romana
Um dos passos mais importantes logo após a eleição é a reunião com os cardeais da Cúria Romana, o núcleo administrativo do Vaticano. O novo papa pode optar por manter nomes, fazer mudanças ou anunciar reformas. Com isso, começa a moldar a estrutura que o auxiliará no governo da Igreja.
Primeira viagem
A primeira viagem do papa, geralmente dentro da Itália, costuma carregar grande valor simbólico. Em seguida, sua primeira visita internacional costuma refletir as urgências e causas que pretende priorizar. Papa Francisco, por exemplo, escolheu a ilha de Lampedusa para denunciar o drama da imigração.
A identidade nos detalhes
A linguagem corporal, a escolha das palavras, os símbolos usados e até mesmo onde decide morar — tudo comunica algo sobre o estilo do novo papa. Francisco, por exemplo, recusou os tradicionais sapatos vermelhos e preferiu viver na Casa Santa Marta, demonstrando sua opção pela simplicidade e proximidade com as pessoas.
A rotina que não aparece nos noticiários
Além da agenda pública, há uma dimensão privada pouco conhecida. Especialistas apontam que o papa também toma decisões sobre questões pessoais: recebe familiares, escolhe o cardápio das refeições, decide sobre obras de arte e móveis em salas do Vaticano — gestos que revelam preferências e toques humanos em meio ao protocolo e à solenidade.