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Poucos criadores deixaram marcas tão profundas na moda quanto Alexander McQueen. Filho de um taxista do East End londrino, ele desafiou todas as convenções ao transformar a passarela em palco e a dor em beleza. Sua obra foi um grito — de liberdade, de ousadia, de inquietação.
Alexander McQueen retorna ao palco — desta vez, em forma de espetáculo teatral. A peça “House of McQueen”, com estreia marcada para setembro no circuito off-Broadway em Nova York, propõe uma imersão sensível e arrebatadora na mente criativa por trás de alguns dos momentos mais inesquecíveis da moda.
Sob a direção de Sam Helfrich, com texto de Darrah Cloud e direção criativa de Gary James McQueen, sobrinho do estilista, a montagem transita entre beleza e dor, explorando temas como bullying, homofobia e saúde mental — sombras que marcaram a trajetória do designer.
Cenas emblemáticas, como o holograma de Kate Moss em The Widows of Culloden (2006) ou o caos visual de Horn of Plenty (2009), ainda vivem na memória coletiva fashionista — e agora encontram eco no teatro, com figurinos assinados por Kaye Voyce e peças de arquivo emprestadas por colecionadores anônimos.
Sua trajetória repleta de contextos desafiadores e genialidade, ganham vida na peça. Nascido em Londres em 17 de março de 1969, Alexander McQueen já demonstrava o espírito transgressor que marcaria toda a sua carreira. Aos 16 anos, trocou a sala de aula pela tradição da alfaiataria britânica, iniciando sua trajetória como aprendiz na prestigiada Anderson & Sheppard, na icônica Savile Row — a rua dos ternos impecáveis feitos sob medida para figuras como o Príncipe Charles.
Com o corte e a construção de roupas já em sua identidade, McQueen passou por experiências fundamentais ao lado de nomes como o japonês Koji Tatsuno e o italiano Romeo Gigli, com quem trabalhou em Milão. Essa vivência internacional ampliou seu repertório estético e o levou, na volta a Londres, a ingressar na Central Saint Martins — uma das escolas de moda mais renomadas do mundo. Foi lá que, em 1990, apresentou uma coleção de formatura que chamou a atenção imediata da icônica editora e stylist Isabella Blow. Impressionada, Blow comprou todas as peças do desfile e tornou-se sua grande mentora, encorajando-o a adotar “Alexander McQueen” como nome artístico — uma decisão estratégica e simbólica.
Dois anos depois, nascia oficialmente a marca Alexander McQueen, com o lançamento de sua primeira coleção feminina.

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Ascensão meteórica
Provocador, dramático e absolutamente singular, McQueen rapidamente se destacou na cena internacional. Em 1996, foi nomeado Designer Britânico do Ano — título que conquistaria outras três vezes. No mesmo ano, foi escolhido pelo grupo LVMH para assumir a direção criativa da Givenchy, onde permaneceu até 2001. Embora sua estética ousada nem sempre fosse compreendida dentro da tradição francesa, ele conseguiu imprimir sua assinatura autoral com desfiles que deixaram o público em choque — e fascínio.
Em 2003, McQueen conquistou o mundo: foi premiado não só como o melhor designer britânico, mas também recebeu o título de Designer Internacional do Ano pelo CFDA (Council of Fashion Designers of America).
A estética do confronto
Apaixonado pela Era Vitoriana, fascinado por história, anatomia e tudo que fosse ao mesmo tempo belo e sombrio, McQueen construiu uma obra que dançava entre extremos: vida e morte, delicadeza e brutalidade, romantismo e violência.
Influenciado pela cultura punk londrina dos anos 80, por sua formação em alfaiataria e por uma observação afiada do comportamento urbano, ele transformava passarelas em espetáculos teatrais. Cada coleção era uma experiência imersiva e sensorial. Como esquecer a calça bumster, que redefiniu a silhueta dos anos 90 ao baixar a cintura a níveis inéditos? Ou os sapatos esculturais, que mais pareciam garras alienígenas, usados por Lady Gaga no clipe de “Bad Romance” — uma ode à estranheza que virou ícone pop?
Muito além da moda
McQueen nunca se contentou em apenas criar roupas. Seu trabalho era político e emocional.
Sua trajetória foi curta, mas arrebatadora. Alexander McQueen faleceu em 2010, aos 40 anos, mas deixou um legado que ainda pulsa — não só nas roupas, mas na maneira como enxergamos a moda como arte.
Agora, esse legado chega aos palcos com a peça House of McQueen, celebrando o estilista que jamais teve medo de mostrar que, por trás da beleza, pode haver dor — e que a moda, quando feita com verdade, pode ser tão poderosa quanto um grito.
Um tributo à altura de um dos nomes mais visionários da moda contemporânea.