Gilberto Gil reflete sobre tempo, legado e reinvenção em meio à sua última turnê

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Gilberto Gil – Foto: Bob Wolfenson

Tem gente que parece viver fora do relógio. Não por atraso — mas porque simplesmente move-se no tempo em outra cadência. Quando Gilberto Gil entra na sala, não é ele que chega: é o tempo que desacelera. As palavras saem com doçura, a memória dança entre décadas e o corpo, aos 81, ainda se prepara como o de quem tem estrada pela frente. Na mitologia, Cronos era o senhor do tempo — o titã que devorava os filhos por medo de ser superado. Gil faz o oposto: alimenta gerações, cede o palco aos filhos, canta com os netos, grava com os mais jovens. Se Cronos reinava pelo controle, Gil reina pela partilha. Não congela o tempo — atravessa-o com leveza. A turnê Tempo Rei, apresentada pela Rolex, marca a despedida das grandes turnês do artista baiano. Ou, como ele prefere dizer, uma pausa no ritmo — porque parar mesmo não está nos seus planos. No meio dos ensaios, compromissos e lembranças que surgem quando se revisita a própria trajetória, o cantor recebeu a BAZAAR Man para falar de legado, música, fé e reinvenção. No tempo certo!

HARPER’S BAZAAR BRASIL – Você anunciou que era hora de “desocupar o tempo”, mas, vamos ser honestos: tempo livre nunca foi muito a sua cara. com tanta coisa em andamento, tem certeza de que consegue parar mesmo? ou já tem projeto novo no forno, disfarçado de descanso?

Gilberto Gil – Tem, tem sim. Sempre tem alguma coisa. Por exemplo, essa ópera, Amor Azul, ainda vai ter uma encenação completa, com a orquestra sinfônica tocando toda a música da ópera, com a encenação, com o cenário, com o figurino. Já estamos preparando isso. Então, a gente diz “vamos parar um pouco”, mas já está fazendo outra coisa.

HB – Por que começar a turnê por Salvador?

GG – É uma cidade muito emblemática, né? Para mim, particularmente, como pessoa, como artista. Salvador é sempre um grande afeto. Então, começar por lá tem esse sentido.

HB – Bem e José Gil mandam no show agora?

GG – Eles que organizam tudo. Organizam os músicos, a banda, ensaiam. Mas a palavra final ainda é minha. (risos)

HB – Teve faixa barrada?

GG – Eu tinha feito uma música nova, um samba de roda que se chama 13 de janeiro, que é a data do nascimento do Bem e da Maria. Os dois nasceram no mesmo dia, com diferença de nove anos. Fiz essa música, estava pensando em incluí-la no show, mas acabei deixando-a de fora. Achei que não era o caso de acrescentar mais uma música inédita.

Gilberto Gil – Foto: Bob Wolfenson

HB – Musicalmente, você curte experimentar. Novas tecnologias ou inteligência artificial lhe interessam?

GG – Venho tentando convencer os meninos a usarem mais recursos eletrônicos, sintetizadores… Já usamos um pouco, mas queria radicalizar mais. O José (Gil) e Os Gilsons são mais abertos a isso.

HB – Sem leis de incentivo, sobrou “aquele abraço” para os patrocinadores? Foi para evitar críticas?

GG – (risos) Desde os tempos como secretário e ministro, me acostumei a não usar esses mecanismos. Tem muito falatório em torno deles, mas são fundamentais para a cultura. Ao mesmo tempo, acho importante que empresas privadas invistam diretamente!

HB – Tempo como tema da turnê de despedida, tempo como patrocinador. Coincidência?

GG – Foi natural. Colaboro com a Rolex há mais de 10 anos, em um projeto de arte deles. Sempre tiveram interesse por cultura, arte, música… Essa conexão com o tempo, com o que permanece, fez sentido: foi uma aproximação natural.

HB – Além da música, você já foi vereador, ministro da Cultura, imortal da Academia Brasileira de Letras… Algum desses papéis foi mais difícil de assumir?

GG – Não. Foram caminhos guiados pela curiosidade e pelo desejo de ampliar a contribuição. As dificuldades apareceram, mas sempre foram encaradas como parte do processo.

HB – Espiritualidade pesou na decisão de parar?

GG – Sim. A ideia de fim, de transição, está muito presente nas tradições que me acompanham. Nas orientais, nas africanas, nas cristãs também. Tudo tem começo, meio e fim.

HB – Ainda tem vontade de dividir o palco com alguém?

GG – Essas coisas acontecem. O (MC) Hariel, por exemplo, apareceu, veio com a música pronta e a gente fez. São os encontros que o tempo traz.

Gilberto Gil – Foto: Bob Wolfenson

HB – Tem cidade que virou casa?

GG – Rio de Janeiro. Eu conheço o palco do Canecão como conheço o quintal da minha casa. Mas também gosto de tocar em lugares novos, onde o público ainda me escuta com surpresa.

HB – Você se ouve?

GG – Sim. Às vezes, escuto uma gravação antiga e penso que poderia ter feito ela diferente, mas aí lembro que aquilo ali é retrato de um tempo.

HB – O Camarote 2222 é um patrimônio do carnaval baiano — mas nem ele escapou das casas de apostas nesse espaço, que sempre foi sobre cultura e celebração?

GG – Para ser sincero, nem sei que tipo de envolvimento direto meu nome tem com isso. O leque de patrocínios hoje é muito amplo — e, na medida em que essas atividades estão regularizadas, elas passam a fazer parte desse conjunto, como tantas outras.

HB – Aposentadoria das turnês ou do Gil?

GG – Das turnês. Essas turnês grandes, longas, de viajar por aí… isso eu quero deixar pra trás. Mas a música continua.

HB – O que o público leva de Tempo Rei?

GG – Afeto. São gerações que me acompanham. Cada pessoa leva uma memória diferente. Isso é bonito!

HB – Alguma lembrança o pegou de surpresa?

GG – Sim. Às vezes, uma foto, uma história contada… a memória é um gatilho.

HB – O que ficou e o que mudou?

GG – A velocidade mudou. O sentido ficou. Continuo buscando beleza nas coisas.

HB – Ainda cabe uma refestança?

GG – Cabe, claro. A palavra inventada é liberdade.

HB – O que a cultura ensina hoje?

GG – Ensina a escutar o outro. A entender as diferenças. Sem cultura, a gente se fecha.

HB – O que você diria pra quem chega agora?

GG – Bem-vindo. E que a música o leve para onde você quiser ir.


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